quarta-feira, 30 de julho de 2008

Histórias da Carochinha


Seu Zé era mesmo uma pessoa que se não tivesse nascido, teria que ter sido inventado. Com certeza. Minha infância em sua companhia foi recheada de belas e longas histórias (inventadas ou não...não sei), principalmente as da Dona Carochinha cuja imagem em minha mente era a de uma velha bem velha mesmo, com uma bengala feita de toco de árvore, cabelos desgrenhados e sujos e morando no meio da floresta junto às matas para, inclusive, protegê-las da depredação que o ser humano promovia constantemente.

A Serra da Mantiqueira era o palco das histórias de sua morada e mesmo hoje me pego a lembrar dos detalhes do relato das aventuras dessa senhora, tamanha a veracidade da lenda que meu pai contava e gesticulava na intenção de me fazer dormir.

Lembranças são realmente uma fantástica maravilha a nós proporcionada pelo nosso Criador. Zezé sabia disso...e mais: sabia que essas histórias me seguiriam para sempre e que nunca, nunca seriam esquecidas.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Ode à Serra da Mantiqueira


"Você já viu a serra, a mãe que chora?
A lenda de tupi-guarani Mantiqueira...
Toda coberta de nuvens que de água se transforma.
Todos dela bebem. O que sobre enche rios que não voltam mais
Até dá dó ao cair da tarde
A Serra da Mantiqueira fica sonora...
Oh, Serra da Mantiqueira, eu te amo e te adoro
O dia em que não te vejo, fico triste, até choro!
Tanta beleza...você sozinha e eu também aqui sozinho...
Oh, Serra da Mantiqueira, me leva, eu te imploro!
Tanta riqueza em suas plantas e em seus pássaros a cantar
O que eu posso lhe dar de mim são os meus poemas para lhe agradar
Nessa linda cidade de Itajubá!"
J.L.V.F. – o poeta.

Minhas lembranças e muitas poesias


Rio de Janeiro. Bairro Rio Comprido. Rua Guaicurús, sopé do Morro do Querosene. Lá nasci e me criei, sempre dentro dos ensinamentos mais dignos que uma pessoa modesta e cheia de honestidade poderia partilhar com sua prole, ensinamentos esses que meu pai fazia questão de levar consigo. A começar pelo nome. Dizia sempre que pobre só leva de bom e digno desta vida o nome limpo. Hoje entendo suas razões.
Lembro-me que, muito agarrada com ele, pois era a única criança dentro de um lar de mulheres já amadurecidas, tinha minhas vontades sempre satisfeitas, custasse o que custasse. Minha mãe fazia bolo quase todos os dias e era ele, Zezé, que batia a massa em uma tigela funda de beirada lascada e porcelana antiga com uma comprida colher de pau, acompanhado da menina franzina de pernas finas a esperar pela “rapa”...Era eu que, ao menor descuido dos olhos zelosos de minha mãe, via minha boca literalmente entupida pela massa deliciosa e crua do lanche da tarde.
Hoje levo a saudade nitidamente estampada na lembrança daquelas tardes precoces em que o riso de meu pai era de uma alegria marota de algo mau feito, sob as zangas constantes de minha mãe.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Amor antigo e eterno: Serra da Mantiqueira

Porém, Zezé tinha um amor especial, inspiração de muitas de suas poesias: a Serra da Mantiqueira.
Foi chamado dia 21 de janeiro de 2004 para viver eternamente em cada folha caída pelo peso do orvalho que brilha a cada manhã na Mantiqueira, em cada pássaro que voa baixo pra procurar seu ninho e viver livre entre as árvores da serra e em cada cheiro de mato exalado das entranhas das montanhas em uma tarde de sol. Deixa uma imensa saudade e um legado de vitórias maravilhoso em todos os sentidos e é esse tesouro que quero compartilhar com o mundo virtual.
Essa homenagem é pra você, pai...Seu sonho finalmente se realizou! Você tá no mundo...saído dos nossos corações...

“Cercado pelo silêncio daquela cidade do interior...”

Com o compromisso cumprido, agradecia a Deus, fazia suas poesias e as declamava para os familiares e amigos que fez em suas idas à Praça Teodomiro Santiago todos os dias.
Homem de fé inabalável, agradecia a Deus por tudo o que havia conseguido na vida, muito pouco material, mas pelos valores alcançados em sua existência terrena. Seu sonho de uma casa própria deu lugar ao conformismo sempre alegre da admiração perplexa da beleza do céu mineiro, das maravilhas da tranqüilidade de Itajubá, do ar puro, da companhia dos amigos e das visitas das filhas.



“Sei que nada será como antes...”

O tempo passou, Zezé teve sua família multiplicada, viu nos netos a perpetuação de seus ideais e se revelou poeta.
Aposentou-se e seu coração mineiro falou mais alto: na primeira oportunidade regressou à terra natal – agora Itajubá, também Sul de Minas Gerais. Instalou-se no Bairro Rebourgeon, bairro com ruas muito íngremes, mas de sua casinha, bem lá do alto, admirava as lindas montanhas itajubenses, o ar puro e tudo era motivo de inspiração para suas poesias. Sempre se referia a um sonho que um dia tivera de que morava bem pertinho das nuvens e até podia alcançar o céu.

O casamento: inicia-se a família

Foi com esse propósito que voltou a Minas Gerais para buscar sua prima Aracy Villela, que aos quinze anos deixou seus pais e seus nove irmãos para desposá-lo e constituir sua família. Desse enlace nasceram duas filhas, criadas com muito amor e dignidade e, com muita luta criou, educou e as formou como profissionais da Assistência Social e do Magistério.
Com seu enorme coração, sempre procurando ajudar os outros membros da família a encontrar mais oportunidades de trabalho na cidade grande e uma melhor qualidade de vida, ganhou uma nova filha: essa que lhes relata a incrível vida desse homem maravilhoso.

E a história começa...J.V.F., o poeta


Ele nasceu na bela e sossegada cidade interiorana de Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas Gerais, no dia 20 de setembro de 1917. Primeiro filho homem de uma família humilde de sete herdeiros, Zezé, como era carinhosamente chamado, trabalhou desde muito cedo acompanhando seu pai na lida da roça, pai muito querido que o deixou aos sete anos de idade. Primogênito, passou a suprir a ausência do pai trabalhando com mais afinco na lavoura para ajudar no sustento da casa.
Seu respeito e amor pela terra e pela natureza de um modo geral surgiram nessa época, com o convívio contínuo na lavoura.
Finalmente a obrigação militar o chamou e fez com que Zezé deixasse a roça a fosse para a cidade grande – Rio de Janeiro. Idealista, pensou em seguir a carreira militar, sonho que não se concretizou pelas idéias já tão reacionárias em busca de um país mais igualitário.
Como não teve oportunidades para prosseguir nos estudos, restou-lhe a ocupação de motorista de lotação. Assim, sua vida na selva de pedra que o engolia era sempre difícil. Mas, sempre com uma surpreendente confiança em Deus, em si próprio e no semelhante, prosseguiu sua vida de trabalho com grande honestidade e um autêntico e peculiar bom humor em busca de formar uma família e comprar sua casa.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Amor pra recomeçar...



A prole do Seu José Villela não é muito grande. Com a agregada aqui, somos três filhas, sete netos e quatro bisnetos...hummmm...acho que não errei na conta não. Por enquanto é só uma prévia da linda história desse meu grande poeta. Estou preparando o material para colocar sua vida inteirinha na net. É, Seu Zé...como vc sempre sonhou, lembra? Todo o mundo vai conhecer sua história e suas poesias. E nem precisou publicar, né? Aí do lado está minha irmã "gêmea" Marília, meus sobrinhos Marco e Carlo, suas respectivas esposas Gissele e Vivi e a minha linda princesa Clara, filha do Marco. Êita gente bonita que vc deixou, heim, Zezé? Se você tivesse ainda entre nós teria orgulho de sua família. Sou eu, meu pai, sou eu tenho tanto a te agradecer hoje...onde você estiver...

terça-feira, 8 de julho de 2008

Esse é meu pai....pai poeta...pai Villela

José Luiz Villela Filho. Para os que o amam, simplesmente Zezé. Descrever sua trajetória por essa vida tão curta será tarefa difícil, pois um homem com tamanha espiritualidade, coragem, determinação e garra, mostrando a tudo e a todos o verdadeiro propósito da arte de viver, não é fácil de se encontrar todos os dias em nenhuma curva de esquina.
Vou revelar, dia a dia, suas atitudes que, de tão pequenas, somaram-se enormes na lição da existência de cada um de nós....na lição do dar e do receber...na lição de que existe algo muito mais além do que podemos imaginar.
Eu, como agregada à família, mas sentindo-me dona desse imenso legado deixado por ele, quero mostrar a alegria de ter sido sua, sempre, filha...